17 abril 2009

As chuvas de São Luis

Aqui em São Luis chove, desde a quinta-feira santa, sem parar, com pequenas alternações entre torô e garoa. Um espanto, pois, foi uma coisa que veio assim do nada... Sol quente na moleira e de repente... Dizem por aí que é a tal de zona de convergência inter tropical (?), mas eu não sei não, já que minha mente trabalhou muitos fatores.

A chuva forte encheu galerias, encontrou valas cheias de lixo, transbordou esgotos, transformou ruas sem asfalto em ringues de lama, mães com medo da dengue, febre amarela, rotavirus. A chuva deixou a cidade fedendo, precipitando algo de podre que estava escondido por detrás das belas palmeiras da Avenida Daniel de LaTouche, deu sentido a podridão que brota da Lagoa da Jansen, fez a urina das ruas e becos da Praia Grande rescender e fazer engulhar até o mais sujo cachorro. Só que ninguém percebeu os sinais, e continuávamos na frente da televisão vendo a previsão do tempo, formando musgo, e acreditando na zona de convergência.

Até que ontem a chuva parou por completo, mas o sol não saiu um instante. Céu cinza, de dar medo... Gritos, choros, palmas... A cavalaria abre caminho no meio da multidão convulsa em frente ao Palácio, dando passagem a ela... Só que a multidão não era nada, não éramos nós.

O maranhense não grita mais, e dos seus olhos nem uma lagrima e apenas a expressão atônita da descrença na vida, como quem se entrega pra morrer, pois seu jumento caiu de sede, e 40 km caminhando o individuo não acha mais força nas pernas. Fecha os olhos e não quer mais abrir, com medo do amanhã. Já que sensação que dá é que o nosso Estado é um quadrado fechado, e todos os seus habitantes claustrofóbicos arranham as paredes sem saída... Quando alguém estende a mão o maranhense, cansado de sofrer acredita e vai, mas não depois de muito tempo descobre que a luz era um artifício... Formiga sendo queimada com a lupa... Preferimos acreditar na zona, nossa esperança de que o cheiro podre vinha da chuva transbordando as fezes dos esgotos.

Ela veio de cabelo corte chanel, sorriso amarelo, oca por dentro... Veio com a pá de cal, com a benção do seu pai todo poderoso. Veio triunfante com o epitáfio do povo na mão.


Mas Esperança, sem a ultima, há de erguer a mão da terra para puxar o seu pé.