27 fevereiro 2009

Melãozinho

Eu estou aqui em THE (vulgo Teresina). Ando foragida da minha ex-chefe, da minha monografia, passando uns dias na casa da Sanara, minha amiga de São Luis, que acabou de se mudar. Desliguei o telefone, não disse nada pra ninguém (isso não abarca os meus pais), comprei a passagem e vim. Estou agora entre caixas mal desempacotadas, com um notebook no colo, me impressionando do simples fato de que esta cidade é um ovo...

Mais cedo eu pensava só na minha vontade de beber; no abafado da cidade; do por que diacho eu vim bater perna nesse Riverside, que nem ar condicionado tem.
Paro numa revistaria (mas eu tava mesmo era com fome!), dou uma folheada na nova edição da Caros amigos, dou uma olhada nos vestidos do Oscar na CARAS...

- Péssima troca... Me disse um cara que estava ao lado.

-Ãh? Não entendi! - E levantei um pouco o rosto pra tentar ver suas feições, mas ele se mantinha de cabeça baixa, olhando uma revista, a qual não pude distinguir.

- Muito ruim você ter largado a Caros Amigos e pegar essa CARAS aí. Perda de tempo por página folheada...

- Hahahahahaha! Ah é!? Quer dizer que tu não és o tipo de pessoa que perde tempo com essas coisas?

- Não - E levantou o rosto com uma expressão um tanto quanto debochada.

- Bom saber que... Espera um pouco, tua cara não me é estranha...

- Bem, tenho certeza que na CARAS você nunca viu minha cara! hahahahaha

Olhei os olhos dele...
- Daniel!?

- De onde eu te conheço? Tu estudou comigo?

- Não idiota! Sou eu, Gerusa...

-Reconheci a partir da palavra idiota... Ele parou de olhar a revista, colocando-a em cima das outras, afim de me dar um pouco mais de atenção. Migrou do ar de deboche para o de leve espanto.
- O que tu anda fazendo por aqui?

- Olhando vestidos do Oscar na CARAS, oras!hahahahaha

- Sem graça! Quero saber o que tu andas fazendo aqui em THE... trabalho, passeio...

- Fuga! Disse eu, também largando a revista em cima das outras.

- Sabia que um dia tu ainda matava alguem. Espera só um pouco, enquanto eu vou pagar a revista, e ai a senhorita me explica direitinho que delitos cometeu.

Olhei pro relógio, eram quase seis da tarde, e a San me disse que ia sair um pouco mais tarde do trabalho, pra gente passar lá naquele bar mexicano, que eu sempre me esqueço o nome...

- Então me diga, quem foi a vitima!? Disse o Daniel com a sacola da revista na mão.

- Foi o tédio... Minhas ferias estavam acabando, minha amiga me convidou... E eu vim pra este braseiro, que agora com esses dias chuvosos tá mais pra ferro a vapor!

- Hahahaha! E fica até quando na chaleira? perguntou enrolando as alças da sacola entre os dedos e deixando a cabeça ir atrás de uma menina bonita que acabou de passar...

- Tem jeito mesmo não pequeno! Disse dando um tapa na cabeça dele.

- Eita que já levei porrada! que diacho foi que eu fiz?

- Ficou olhando pra bunda da pobre... E voltando a pergunta, não me demoro muito não. Coisa de três dias já pego o caminho de volta.

- Hum, sei. E o que tu vai fazer mais tarde?

- Vou com a minha amiga num bar que tem temática mexicana, sei lá...

- Sua cachaceira! Sempre procurando uma coisa pra beber. Mas, eu tava pensando em te levar lá em casa...

- E que diacho eu vou fazer na tua casa Daniel? Olha que essa conversa furada de mostrar os teus livros não cola comigo!

Ele me olhou com um ar de riso, e as feições de deboche foram ressurgindo no seu rosto.

- Eu sei sua doida, e não tô querendo te passar conversa. Só que hoje é meu aniversário e...

- Ai meu Deus! Desculpa Dan, eu não tava me lembrando...

- Então, como eu dizia, hoje é meu aniversário, e a minha mãe, que gosta de inventar coisinhas, chamou um pessoal pra jantar lá em casa...

Convencida, entrei no ônibus, e sem muita demora cheguei na casa onde somos recepcionados por gatos quando abrimos o portão. O Daniel disse que eu podia colocar a minha bolsa em cima do sofá, sem problemas, e foi até o quarto deixar a sacola com a revista.


- Vêm ver a minha humilde biblioteca - Me disse ele entrando em uma sala onde havia uma mesa um tanto quanto desarrumada, em contraste com a estante com livros impecavelmente alinhados.

- Onde é que estão os teus pais? E a tua irmã, aquela santa que te livrou de uns tapas por achar aquele presente que eu te dei, e tu perdeste?

- Não sei. devem ter saído pra resolver alguma coisa...

- Palhaço! Mas, infelizmente não vou poder ficar mais para conhece-los, pois minha amiga está me esperando.

- Tudo bem, ao menos fostes apresentada aos gatos.

- Pois é... Vou indo, senão me atraso mais. Amanhã eu te ligo e a gente se fala direitinho . Beijos, e boa noite.

- Besos, e que os anjos te cuidem!

- Essa é boa! se tu acreditasse em anjos...

- Mas eu acredito em Bellow e Coetzee... Eles velam meu sono todas as noites.






Isso é ficção viu, meu povo!







13 fevereiro 2009

Santa Maria


Meu trabalho me faz andar um pouco, e a minha mãe me faz andar muito. Uniu-se o útil ao agradável, e fomos a rua, andar.
Ela tinha que ir buscar o Alex na escola, mas era só mais tarde, por isso tínhamos que dar um tempo por ali. E eu lembrei que tinha de ir na Pastoral da Criança, tentar marcar uma entrevista, e também comprar Multi mistura pra mim (isso faz muito bem). Então traçamos uma linha reta.Cruzamos a Sete de Setembro, A Rua Grande, da Paz e do Sol, até chegarmos a Rua dos Afogados.
Quando eu era pequena passava muito por essa Rua, e tinha medo, por causa do nome, pois morrer afogado deve ser uma coisa horrivel, e aquele lugar, pelo plural, estava cheio deles na minha fértil cabecinha infantil. Porém, quanto mais perto eu chegava da esquina, mais essas ideías eram substituídas pelo cheiro de pão quentinho que vinha da Santa Maria.
E eu senti esse mesmo cheiro essa semana, e enchi meu olhos de lágrimas com o sabor da minha infância. De quando eu acordava seis horas da manhã, com o som de um sabiá que tinha seu ninho na árvore do quintal, proximo a minha janela, e o meu pai que sempre me perguntava se o sabiá dele (que sou eu) sabia assobiar.
Era ele quem me arrumava pra ir a escola, pois a mamãe quase sempre ficava de plantão na clínica (ela era auxiliar de enfermagem). E me fazia umas tranças tortas que eu odiava; vestia minha camisa; amarrava meu tênis; deixava eu levar minhas bonecas de porcelana pra escola; me fazia suco de groselha, daqueles de pacotinho (que eu também odiava); e comprou pra mim, uma menina, a mochila com o logotipo do Batman.
Eu me lembrei, a cada passo dado rumo a praça de Santo Antônio, de como tudo era grandioso, e o percurso de agora era antes mais longo, e as ruas tão largas hoje mal me cabem.

E a praça a perder de vista, onde uma vez eu desmaiei no meio de uma missa, e onde o Padre Antônio Vieira deu o seu famoso Sermão aos Peixes, hoje era vencida com três pernadas.
Meu horizonte outrora grandioso, ficou feito mosquito na minha mão... Mas onde está o prédio que ficava a minha escola? Ei moço, onde fica mesmo a Pastoral da Criança?
O guardador de carros apontou com o braço um muro alto e um portão de ferro, e qual não foi a minha surpresa a verificar que detrás dali ficava o que foi um dia minha velha escola. E com três passos venci o jardim, já dentro da construção tão pequena, onde antes eu andava o mundo inteiro para poder visitar o Tony, que fazia o Jardim III.
E enquanto a mulher foi buscar os saquinhos com a Multi mistura eu via o meu infinito sumir, como aquelas roupas baratas que encolhem depois da máquina de lavar. E saí de lá costurando os retalhos, minha mãe apertou a minha mão - Nem parece que faz tanto tempo, lembra que o Seu Zequinha morava aqui?
E o cheiro da Santa Maria (agora sem o seu velho português) ainda estava lá, me chamando. Quando entrei, e vi os biscoitinhos salgados que eram minha alegria na volta pra casa, de minha infância de tranças tortas, percebi que por mais que o tempo nos roube os anos, a inocência, o medo, a pureza... Mesmo assim, o que é bom estará presente em todas as lembranças de nossa vida.

08 fevereiro 2009

Sobre fogão e panelas


Eu acho tudo muito engraçado nessa vida (quem me conhece sabe, que eu vivo sorrindo até quando apresento seminário). Acho que são os meus genes provindos de uma família, no minímo, estranha. E muito culpa dos meus pais, que me deixaram ir por ai com a cabeça solta, inventando um monte de teoria doida, para explicar as coisinhas mais triviais.
Era a minha brincadeira favorita inventar teoria pra tudo. E eu nunca larguei de fazer isso, já que não me importa muito se para os outros minhas teorias tem lógica. Afinal eu não estou defendendo uma tese, mas apenas falando pelos cotovelos.
E foi assim , sem mais e sem pensar que, na quitinete (é assim que se escreve?) da minha amiga Fani, eu falei:

-Meu irmão comprou um fogão completo... Acho que ele vai casar...


-Só por que ele comprou um fogão, não significa que vai casar Gerusa! hahahaha


- Ah é! Então significa o quê? Me diz?


- Ora... Significa que ele pode estar pensando em se mudar da casa dos teus pais, ir morar sozinho...


- Ai ele vai e compra um fogão, pra morar sozinho?


- É oras! Como ele vai cozinhar a própria comida sem um fogão?!


- Pois pra mim, quem pensa em fogão e panelas é porque vai se casar. Ninguém fala nisso antes de pensar em se casar oras!

-Gerusa! Larga de tu ser doida pequena! Eu comprei um fogão, e panelas, e panos de prato, mas não casei e...


- Ah! Stephanie! Tu é francesa porra! Ai não vale!


- ?


- Minha mãe não é francesa, e fez a mesma coisa.


- Mas eu aposto como ela tava querendo casar...


(Pois o ato de cozinhar não é uma coisa solitária. É algo que você faz com carinho, pensando em alimentar alguem, como num ritual sagrado. E quem mora sozinho não compra grandes apetrechos de cozinha, pensando apenas na sua alto suficiência. Fogão e panelas significam coletividade. Cozinhamos para receber amigos, parentes, para nutrir aqueles que amamos. A gente pouco importa na cozinha, tão tal que quando estamos sós temos preguiça de fazer qualquer coisa, mesmo com fome.)


- Tá, tá certo. Então a minha mãe tava advinhando que um mochileiro francês iria aparecer derepente na vida dela?!
hahahahaha

-Ah! Sei lá Fani. Só sei que, pra mim, as coisas são assim... E "vumbora" que a gente já tá é atrasada.

05 fevereiro 2009

Selos e amigos

Eu ganhei outro selo da Di (tão fofo quanto o primeiro). E achei engraçado os dizeres "este blog investe e acredita na proximidade", pois foi justo pelo blog (do Dowglas) que conheci essa pequena fofa.
A Dianne é realmente inacreditável, e faz a gente acreditar em coisas como amizade, carinho, bondade. Sentimentos tão gostosos que dão a nós duas a sensação de que brincava-mos juntas no parquinho da escola, e de que contamos uma pra outra quando demos o primeiro beijo naquele carinha tão desejado. Tudo isso sem nunca ter visto a outra pessoalmente. Mas sei que se um dia ela andar perambulando pelas bandas daqui, eu dou casa e comida, sem nem piscar, pois pessoas maravilhosas sempre enchem tua casa de alegria.
A Di traz na bagagem dela essa sensação de proximidade, de braços abertos que estão só esperando você chegar perto para poder te envolver em um abraço gostoso, bem arrochadinho assim.

E como eu quero retribuir todo o carinho que ela tem por mim a altura, além de aceitar e colocar o selinho no meu blog, vou dar outro pro blog dela, que de quebra diz muito sobre a Di...


Encontrei esse selo lá no blog da Ju Dacoregio (muito bom, recomendo), e achei uma graça. Tanto que além de passar pra Dianne, também quero oferecer pro Dowglas, e para a Camilinha (linda do meu coração) que são pessoas muito queridas na minha vida, e me divertem e emocionam com seus respectivos blogs.

Um cheiro grande em todos eles.