27 novembro 2008

Nem te conto!

Era sempre a mesma frase, quando eu entrava pelo corredor e ia bater no quarto do Mark. E ele ficava lá sentado no chão só de bermuda, rindo das minhas loucuras... Uma risada tão legal, munida de uma satisfação tão grande. Não demorou muito para sermos inseparáveis, e pro meu ex-namorado ficar com ciúmes da quantidade de tempo que passavamos juntos.
Eu lembro da primeira vez que nos vimos, cada um sentado em extremidades opostas da sala de aula. Eu calada, um pouco assustada, ele fazendo perguntas triviais para a professora. Só queria que não me notassem, não queria falar com ninguem, odiava a escola, não suportava a ideia de viver naquela cidade. Queria minha escola antiga, meus amigos antigos, minha vida antiga tão feliz.
Foi um trabalho de português eu acho, e descobrimos que tinhamos algo em comum: não gostavamos nenhum pouco daquela cidade. Passar ferias era até divertido, mas morar era uma joça sem fundo. O nosso tédio causado pelo clima mormaçado de São João dos Patos nos uniu, e o que era pra ser uma equipe virou uma panela, facção, sociedade secreta (sem o extremo do pacto de sangue) e amor(sem o sexo).
Os trabalhos na biblioteca, ouvir o CD da T.A.T.U, assistir Small Ville, jogar play station 2, ou simplesmente ficar com a cara no tempo, tudo era motivo.Mas sim, tinhamos um esporte preferido em particular: tirar sarro da cara das pessoas, constrangimento público e pequenas desordens com a vida alheia patoense. Uma verdadeira critica de costumes.
Eu amava (ainda amo!). Como no dia que chamei uma menina de energúmena na sala de aula, por simplesmente me esquecer que não estava mais brincando do jogo de dicionário, e ele deu uma daquelas risadas medonhas que só ele sabe dar, pra quebrar o gelo. Ou no dia que caí de uma bicicleta e fui parar na casa dele com o joelho todo ensanguentado, a mãe dele nervosa e nos dois na sala rindo a vera do meu desastre pessoal. Posso entrar? eu perguntava sempre - vai, entra, senta e liga som, abre a geladeira, bebe meu refrigerante e come meu pudim - era o jeito dele de dizer que eu era de casa.
Mas geralmente coisas assim acabam quando a escola acaba, e ai são apenas rostos estranhos na multidão, que quando se encontram esboçam um oi desconcertado. Eu fui embora, demorou pouco ele foi também. Mas qual o quê! Sempre voltamos felizes pra cidade que nos dava tédio, e ainda nos dá, mas voltamos felizes, não pra reviver histórias do passado, e sim para novos risos, pois amizade duradoura não vive apenas do que já se foi.

Alô ?! Mark, nem te conto!

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23 novembro 2008

meme

Lá vou eu pro meu primeiro Meme, proposto pelo Daniel que traz perguntas sobre literatura (lógico).

1. Livro/Autor(a) que marcou sua infância: O livro que mais me marcou foi Moby Dick, do Melville. Foi a minha primeira história com um tema grandioso, e que me tirou do tedio causado por uma baita gripe.

2. Livro/ Autor(a) que marcou sua adolescência: Alberto Caieiro, sem duvida.

3. Autor(a) que mais admira: Vixe! tem um bocado. Mas resumindo: Gabriel Garcia Marques, Clarice Lispector, José Saramago, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Ariano Suassuna.

4. Autor(a) contemporâneo: Dalton Trevisan, Chico Buarque e Luis Fernando Verissimo.

5. Leu e n
ão gostou: Stendhal, para mim foi um custo terminar, demasiadamente massante.

6. Lê e relê: Cem anos de solidão, do Gabo. Virou uma especie de oraculo.

7. Manias: cheirar e abraçar todo o livro que ganho. Escrever coisas nas contra - capas e rodapés.


Ah! Como dizem que Meme é uma coisa que se passa a diante, então gostaria que estas pessoas respondessem: Camilinha, Carlos, Dianne, Dowglas ( será que vale manuais tecnicos de aviação?), Maycko e Nelson. Olha que eu vou xeretar viu!


18 novembro 2008

O sal do amor


Ontem, em um clima bem descontraido depois do almoço, eu e meus amigos, assim sem mais, resolvemos ir ao shopping ver um filme. Vicente com uma Bravo! na mão, com o Woody Allen na capa... E não é que tinha um filme dele em cartaz!
E são esses mesmos ímpetos impulsivos que levam pessoas ao cinema em plena segunda - feira que movem as personagens principais de Vicky Cristina Barcelona. Um filme que não se deve deixar de assistir por uma serie de razões.
A primeira, e o que nos levou a assistir, é ser um filme do Woody. Não vou dizer que sou uma fã do trabalho dele, pois se dissesse estaria sendo leviana, porém também não digo que não gosto e afirmo que ele se sai muito bem no estilo que criou.
A segunda é que o filme se passa em Barcelona, o que me chamou atenção pois geralmente os filmes dele se passam na atmosfera novaiorquina (se bem que as personagens do titulo são de Nova Iorque). Essa locação empresta cores quentes as cenas, você sente um certo calor. Uma bela fotografia.
A terceira, mas que pode muito bem ser primeira para muitos, são os atores em performances otimas. A Scarlett Johansson continua linda, Rebeca Hall incorpora muito bem os conflitos da sua personagem, mas para mim os melhores são Javier Barden, que encarna tão bem seu papel a ponto de acharmos sexy o seu nariz esdrúxulo, e Penélope Cruz como uma hilaria e psicotica ex-esposa.
Mas o que realmente me chamou atenção durante todo o filme foi a relação tecida entre as personagens Cristina, Juan Antonio, Vicky e Maria Helena, e o que estas visualizam do amor. Fica claro que as visões são distintas, mas no fundo todos estão procurando uma coisa só: o sal do amor.
Essa foi uma expressão utilizada por Juan Antonio para explicar o porque do seu casamento com Maria Helena não ter dado certo. Eles, se amavam, na verdade ainda se amam e são significativos na vida um do outro, mas faltava algo na dosagem da vida a dois para a relação ir bem. O que segundo Maria Helena tornava o amor dos dois algo romântico, e por isso impossível de dar certo.
Vicky e Cristina também procuram este sal. A primeira achava que era feliz com o noivo , até conhecer Juan Antonio e ficar balançada e por em xeque o seu futuro até então certo. E Cristina só sabe o que não quer, um homem fabricado em série, nem uma vida pacata, epor isso se joga nos braços de Juan, e por consequência no de sua ex-esposa.
Este filme procura mostra que no fim de tudo só queremos realmente momentos bons, aproveitar a vida e buscar no amor a sua dosagem mais gostosa, aquilo que nos dá mais prazer, a pessoa que nos dá mais êxtase. O que pode ser uma verdade, ou não. Só depende da quantidade de tempero que colocamos.

15 novembro 2008

O problema do Agressor

Eu deveria ter parado pra pensar nisso a muito mais tempo, só que muitas vezes certas coisas te incomodam mesmo que só no pensamento. Isso porque certos questionamentos não são facilmente explicáveis se utilizando apenas o campo das idéias. É preciso agir em cima destas questões, e na maioria das vezes o mais rápido possível, pois fazem parte de um problema muito grande.
E nesta semana que passou, a grande questão que veio na minha cabeça foi suscitada pela triste noticia da menina que foi violentada sexualmente, morta e encontrada esquartejada dentro de uma bolsa de viajem, na lixeira de uma rodoviaria.
Não me questionei quanto a crueldade do ato, quanto ao sofrimento da mãe, e tão pouco a necessidade de se fazer justiça perante o crime. O meu questionamento surgiu a partir das suspeitas da policia em relação a quem teria cometido o ato, onde a suspeita recaia em certo individuo que já havia sido preso por crimes semelhantes, e que no momento estava em liberdade. Tendo-se a noticia de que após sair da penitenciaria já haveria molestado sexualmente de um garoto.
Violência sexual contra crianças e adolescentes se tornou uma grande chaga no nosso país. O que se torna ainda mais caótico quando em contra partida temos uma legislação primorosa no que diz respeito a garantia de Direitos e proteção deste segmento da sociedade. A exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente que comemora 18 anos de existência, porém sem efetividade alguma.
Trabalho a uma ano e meio com o tema, e posso afirmar que a Rede de Atendimento e Proteção das Crianças e Adolescentes não funciona como tal. Suas falhas em estruturação, capacitação de agentes e planejamento de ações são visíveis. Mas o que isso tem haver com o possível assasino?
O fato é que a Justiça pode até tentar se manifestar de maneira eficiente no que diz respeito a punição dos agressores. Quando há denuncia, e o processo não se perde em meio a interrogatórios infrutíferos e exposição inapropriada da vitima, pode-se de fato caminhar para uma punição de acordo com a gravidade do caso. Contudo o investimento na recuperação destes agressores é nulo.
O que se pode notar desde o principio é que se o agressor não for logo linchado pela população raivosa (afinal Violência sexual infanto-juvenil é algo que choca, criando de imediato o sentimento de repulsa e revolta contra quem o pratica) ele será com certeza estuprado e até morto na cadeia, onde os códigos paralelos não perdoam tal ato. E isso seria um alivio na mente da maioria da população, já que pessoas como estas, se é que podem ser chamadas de pessoas diriam uns, merecem mesmo é morrer de uma morte bem sofrida. Só que o sistema do Bode Expiatório em tese se acabou com o advento da Lei, e não podemos mais levar as coisas no olho por olho.
Todo crime, pela sua natureza de atentado contra a liberdade do outro, não pode ser encarado como algo comum. E em se tratando da Violência sexual infanto-juvenil se torna ainda mais grave, pois a vitima é alguém a priori incapaz de defender-se do outro de alguma forma. Por esta razão, assim como a vitima necessita de acompanhamento e tratamento para ter a chance de recuperar-se do trauma, o agressor também necessita de acompanhamento e tratamento especifico para livrar-se dos intentos que o levaram a cometer o ato. E pesquisas mostram que apenas 2 % dos agressores não manifestam recuperação após o tratamento. Geralmente pessoas que possuem alguma patologia detectada, o que são casos raros.
O caso desta menina poderia virar um exemplo do que seria evitado caso investimentos na recuperação de criminosos dessa espécie fossem aplicados em nossos presídios. O Sistema penintenciario de nosso país precisa de uma grande reforma neste sentido, e a boa noticia é que já há vários estudos e projetos com intuito de tratar e recuperar criminosos para uma possível ressocialização. Porém a falta de recursos entrava a continuidade de tais trabalhos.
Só espero que o Governo e sociedade não demorem tanto a enxergar e pensar sobre esta necessidade, pois o nosso tempo é curto e o trabalho a ser feito é muito para evitar que mais crianças e adolescentes tenham suas vidas desrespeitadas.

05 novembro 2008

Para Thais


A Thais fez aniversário, e eu mandei esse texto como depoimento pra ela no Orkut. Ela é uma grande amiga, sabe muito das minhas coisas, alegrias e desilusões.


Não precisamos contar os amores, nem os anos que passam. Não vamos nos ater as lágrimas roladas, aos risos dados. Vamos recordar, mas nunca vamos viver o que passou. As experiências asfaltam o pedaço novo do caminho e só cabe a nós dizer se haverá espaço para o florescer das rosas e gerânios, que trarão borboletas e beija-flores. A certeza única que fica é que sempre haverá uma menina, uma nêga dançadeira...Ou será ela a princesa da Andaluzia?
Ela baila com agulhas nas mãos tricotando uma teia de corações amigos. Corações que saem de sua boca junto com um hálito de alcaçuz. Ela vai sovando a massa fofa dos bolinhos de chuva, vai deixando saudade e certeza de amizades duradouras para além do mar - sem- fim.
Borboleta do meu girassol, fábula das minhas crianças. Amo-te imensamente amiga Thais.


03 novembro 2008

Formigas e pensamentos esdruxulos


Coisas estranhas estão acontecendo comigo, e tem como principais protagonistas as formigas. Sim esses seres minusculamente extraordinários tem chamado, e muito, minha atenção de uns tempos pra cá.
Tudo começou quando, não mais que derrepente, olho para o monitor do meu celular e lá encontro andando serelepe uma formiga. Tentei chuta-lá delicadamente para fora dali com meu dedo, mas qual não foi a minha surpresa ao constatar que ela estava não em cima, e sim dentro do monitor.

Questionamento 1 - como essa louca entrou ai?

Questionamento 2 - e agora como eu vou tirar essa louca dai?

Sim, eu me importei com a formiga gente, sempre tenho a mania de pensar se por acaso fosse eu ali pressa, e essa historia de se colocar no lugar dos outros faz você analisar pacientemente cada atitude a ser tomada, e também por que os outros fazem certas coisas. Como o meu professor de Antropologia gostava de dizer - Descolorir nossas lentes, e recolorir com as cores do outro.
Então tentei desmontar o celular, só que que não consegui abrir o vidro - Diacho de formiga doida! - e ela andava de um lado para o outro - Caraca o oxigênio ai deve ser mínimo! - a luz do monitor devia estar lhe incomodando, ou ela também estava procurando um meio de sair.
Foram quase duas horas de agônia (creio que mais dela do que minha) até que um certo momento ela parou num canto, e eu percebi que aquele era o fim. E até hoje ela está lá no canto, transformando o meu celular em um ataúde tecnológico. E sempre que eu atendo uma ligação vejo ela, um cadáver no meu telefone, e me sinto uma completa inútil por não saber desmontar um aparelho. Mas será que se fosse eu no lugar dela, ela sentiria tanto assim? Pra mim toda vida tem uma função e um significado, e a morte desta formiga asfixiada no meu monitor me fez pensar se pra todo ser humano a vida faz realmente algum sentido.
As vezes não sabemos por que cargas d'água estamos neste mundo, se estamos realmente para além dos fins de procriação, se estamos com essa bola toda, ou se na realidade somos um bando de babacas. Muitas vezes até temos oportunidade de fazer algo que realmente importe e faça a diferença para além dos nossos interesses, só que preferimos ficar mega confortáveis no nosso sofá, na frente do nosso computador. Nós, como a pobre formiguinha, estamos cercados de luzes, esplendor e tecnologia, mas até que ponto essa atração é realmente compensatória?
Nós pensamos! Contudo vejo o homem mais animalesco que os ditos irracionais. E nesses momentos tenho inveja da formiga, pois ela podia ser uma operaria, porém tinha o seu valor reconhecido no seu meio, e vivia em uma sociedade que sempre prioriza o bem comum onde as hierarquias não funcionam como mecanismos de opressão, e sim como uma divisão harmônica do trabalho que deve ser feito por todos, com grandes recompensas.