10 março 2008

California


O Assentamento Califórnia, localizado na zona rural do Município de Açailândia, Maranhão, existe há 12 anos. Foi fruto de muita luta entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e os grandes fazendeiros locais até que se chegasse a um acordo sobre a ocupação e posse da escritura da terra pelos trabalhadores.
Os moradores do Assentamento se orgulham do fato de não haver nenhum assassinato dentro destes 12 anos de ocupação da terra, mas isso não significa que não tiveram, e tenham, outros problemas que precarizam de maneira latente a vida de todos ali. Ameaça de morte por parte de fazendeiros e empresários, aliciamento e prostituição de menores, falta de infraestrutura básica, abuso de álcool e outras drogas pelos jovens, além de vários problemas de saúde que assolam principalmente criança e idosos, ocasionados principalmente pela incidência da fumaça provocada pelos fornos das carvoarias existentes no município.
Contudo a situação se agravou com a instalação, há três anos, de uma Carvoaria Industrial de propriedade da VALE ( ex-companhia Vale do Rio Doce) a 800 metros de distancia do Assentamento. Só pra se ter uma noção do estrago que este empreendimento vem causando, seus 74 fornos industriais ( repito por extenso: setenta e quatro fornos!) tem, cada um, a capacidade de produzir 30 vezes mais que um forno comum, sem falar que a monocultura de eucalipto para produção deste carvão vem empobrecendo o solo, muito necessário na agricultura, a principal fonte de renda dos moradores do Califórnia.

Mas onde eu quero chegar dizendo tudo isso?

É que na manhã do dia 8 de Março o Assentamento Califórnia se levantou, no contexto do Encontro Estadual do MST, e marchou com mais de 900 pessoas em direção a Carvoaria da VALE, demonstrando que estava cansado de gritar e não ser ouvido, já que as inúmeras denuncias ao IBAMA, Ministério Publico Federal, Secretarias Municipais dentre outros órgãos, além da tentativa de negociação com a VALE não deram certo ( eles nem apareceram na audiência que foi marcada). Munidos de enchadas, foices e faixas com palavras de protesto, com as mulheres no front (o que está se tornando comum em vários protestos) ocuparam o local e inutilizaram quantos fornos fosse possível. O que mostra que apesar do contexto da direção nacional do MST que apoia o governo voltado ao agronegocio de Lula, e também da direção local que apoia o governo de Jackson Lago, as bases que constroem verdadeiramente a luta pela Reforma Agrária e pela garantia de direitos essenciais não se corrompeu.
Mas o Jornal Nacional como sempre só me mostrou um bando de vândalos que invadiram uma propiedade privada e depredaram o local, dizendo muito vagamente o suposto motivo do ato de insanidade. E você pessoa que acha a Globo o baluarte da imparcialidade e da informação segura neste nosso pais continental chamado Brasil (como meu querido Dowglas gosta de dizer), fica pura e simplesmente absorvendo essa lavagem que criminaliza descaradamente os movimentos sociais.
Pobre Brasil.

PS: Essa imagem ai foi de uma manifestação no mesmo dia aqui em São Luis, em frente a sede do Governo Estadual, por providências com relação a monocultura de eucalipto.

2 comentários:

Dowglas Lima disse...

conheço açailândia, bem como as instalações da vale por lá e a monocultura do eucalipto. O negócio é grande. Mas direcionar os fatos desse jeito como fez o JN é soda hein...

Paulo Vilmar disse...

Gerussol!
Aqui, na quarta, 04, a fim de chamar a atenção para a situação irregular da empresa sueco-finlandesa Storo-Enso,no estado e solicitar a anulação das compras de terra feitas ilegalmente na faixa de fronteira gaúcha, 200 mulheres da Via campezina fizeram a ocupação da fazenda Tarumã.

[Esta papeleira, juntamente com a Aracruz e a Faber querem transformar as terras gaúchas em um mar de eucaliptos, juntas pretendem plantar Um milhão de hectares (não preciso dizer os malefícios deste tipo de plantação - desertificação - empobrecimento - mão de obra de baixíssima renda e quase nula - etc...).]

Bem as mulheres foram expulsas com violência pela Brigada Militar do Estado, a mando da Governadora Yeda-PSDB, muitas feridas a tiros, outras espancadas e a RBS - afiliada da Globo - noticiou que as mulheres depredaram a plantação, agrediram Brigadianos fortemente armados(?), numa clara criminalização do movimento! O pior é que a maioria acredita nos noticiários e nãos nas poucas denúncias que conseguem irromper o cerco, aqui ou acolá.

Poderia falar mais, mas acho que já estendi demais.

Beijos.