09 maio 2009

Planos de vôo



Andei pensando, depois de um post que li no Amálgama, e percebi que sou uma pessoa estranha para os padrões atuais. Tudo isso porque eu faço planos a longo prazo, e o que é pior, sigo eles a risca. Eu sonho.
Desde criança eu dizia umas coisas, como por exemplo, que iria me formar na universidade com 22 anos, e acho que esse foi o plano mais a longo prazo da minha vida. Tanto eu me lembro que ficava sentada fazendo os cálculos, só para ver se ia dar tudo certo... E eu só tinha uns seis anos e era (me achava) uma bobona de óculos aro marrom e sem amigos. Mas eu tinha um sonho, e isso pra mim era muita coisa. E no meio desse devaneio vinha tanta coisa, tanta vontade... De ser nutricionista só para cuidar da dieta da vovó; aeromoça e poder fazer conexão internacional para Paris; medica e viajar pro meio da Amazônia cuidando dos índios; jornalista (eu vi Watergate altas horas da noite no Corujão, escondida da mamãe) para desvendar todos os podres da política; designer para projetar coisas que facilitassem a vida das pessoas...
E foi tão engraçado quando eu percebi que meus planos eram cada vez mais reais, e que as coisas vão acontecendo no mesmo instante que você respira e, graças as todas as condições favoráveis que eu tive, vou fazer 22 anos em Agosto e caminho para me formar em Pedagogia. Ou seja, estou a beira de concretizar o maior plano da minha vida, já que tudo o que veio antes, durante, e tudo o que virá depois será por causa e efeito deste meu grande plano! Eba!

Mas, é daí Gerusa!? Tu vais te formar, parabéns... Só que até agora eu não entendi aonde tu quer chegar.

O problema é que muita gente me pergunta o que é que eu vou fazer depois que me formar, o que vai ser da minha vida. Varias pessoas me dizem que adiam a formatura ao máximo, ou que fazem varias graduações para não ter que sair do meio da universidade, pois, não saberiam viver ou ter amigos em outro lugar, e não entendem como eu, uma pessoa que teve todas as experiências legais e construtivas que essa meio proporciona, que fiz grandes amigos, participei de grandes movimentos, estive em festas sempre memoráveis, fui referência de curso... Como é que eu posso querer com tanto afinco sair dali?

E eu respondo que eu vou continuar fazendo o que eu sempre fiz: viver!

O grande lance em se fazer planos a longo prazo é que você sempre tem duas possibilidades: ou você se dá super bem, ou quebra a cara. E para que tudo dê certo é preciso fazer escolhas e arcar com a responsabilidade que elas trazem, o que, no meu ponto de vista, é o mais legal pois te faz crescer como gente, ter maturidade pra cair e levantar, e até perceber a tempo se por acaso tal escolha é mesmo a melhor pra sua vida. E por isso eu digo que me sinto diferente, porque não tive medo de fazer planos numa sociedade onde gente da minha idade, e com as mesmas oportunidades que eu tive e até mais, não sabem se calçam a luva ou colocam o anel. Sentem medo de pensar no futuro, afinal somos tão jovens.
Eu olho para minha mãe e penso que na minha idade ela já morava sozinha a um bom tempo, estudava enfermagem, trabalhava, namorava o meu pai... E com 23 anos já tinha o meu irmão mais velho. Vejo e fico pensando o quanto os jovens de hoje adiam a responsabilidade sobre as suas próprias vidas, como se quisessem viver em uma festa sem fim, com medo do estrago e da faxina do dia seguinte. Como certos amigos meus que planejam a sua vida por semana, no máximo por semestre, segurando nas arestas, com medo dos grandes saltos.

Posso até quebrar a cara, mas me jogo do ninho, pois, eu sei que sou um passarinho e posso voar. E você, que ainda está aí dentro olhando a casca que se rachou, pensa que é o quê?

Depois eu conto os meus novos grandes planos...

3 comentários:

Paulo Vilmar disse...

G!
Nossa, fiquei sem fôlego! Achei que o texto nos remeteria a uma bela e nostálgica brincadeira e me peguei, eu próprio fazendo cá , minha reflexão...
Sabe, mais uma vez vou dizer que, teu texto é bonito, mas que planos ou não planos, depende...
Eu, por exemplo, tive, ao todo, mais de dez anos de universidade, o primeiro curso que escolhi, em 1981 foi engenharia mecânica(sei lá por quê), dois semestres depois estava fazendo arquitetura(três semestres), mais adiante, história (2 semestres), sociologia (três semestres)psico(um semestre) e finalmente, Direito por nove logos semestres (um detalhe, para todos os cursos fiz novo vestibular, só de história para sociologia, que consegui transferência)! Creio que sou um resultado concreto multidisciplinar, por isso acabo dando pitaco em tudo! Nunca fiz planos, a vida veio acontecendo e eu fui levando... Estive em todas as grandes festas, brincadeiras e mobilizações estudantis, fui presidente de 3 Diretórios acadêmicos e do DCE uma vez, participei de seis congressos da UNE, não sei quantos da UEE e outros tantos de diversos cursos! Quando me formei, a minha primeira turma, aquela da engenharia, estava comemorando cinco anos de formatura.
Acho lindo, quando vejo alguém fazer planos, ainda mais a logo prazo! Nunca planejei nada, mas, também não me arrependo disso. Apenas uma coisa, paralelo a isso, sempre trabalhei, me sustentei e desde os 16 anos não morava com meus pais. NO paralelo fiz outras tantas coisas, fui operário, fiscal de colégio, professor de cursinho, funcionário da Justiça, motorista particular, proprietário de confecção, vendedor de posters e cartazes, proprietário de bar, de restaurante, de representação de cosméticos, de bar de sucesso, diretor de teatro, ator amador, auxiliar de escritório, vendedor de seguros, (numa fase muito difícil e anterior a Internet, fui vendedor de enciclopédia, tendo tido a honra de vender três), estagiário de todos os tipos, office boy, faz tudo e carregador de instrumentos de banda de rock, e advogado(não nessa ordem), sem contar que em 1979 viajei pelo Brasil, de carona, vendendo em bares, uma edição independente, de um livro de poesias, chamado "Gotas de Presente", dos quais não restou um volume, nem para lembrança e que calculo, ter vendido algo em torno de 10.000 exemplares...
Hoje, sou um pacato advogado, que trabalha com consultoria pela INTERNET, amanhã? Não sei..
Beijos

Gerusa disse...

Paulo, você não fez planos, mas pelo contrário fez varias coisas concretas.Você viveu, e vive, e isso é muito bom.Mas a sua história é muito diferente da história que eu vejo hoje em dia, pois além de não fazer planos, as pessoas não encaram a vida,as responsabilidades... Elas nem sonham pra falar a verdadade.
Na minha vida eu só tive um único grande plano, e o resto foi consequência.Não sou contra quem faz varias coisas ao mesmo tempo, varios cursos, um atrás do outro, qua abandona coisas e começa outras... Afinal o que parecia bom no começo pode não ser tão bom no meio do caminho, e nunca é tarde pra recomeçar, o que na verdade acaba nunca sendo um start, pois você já viveu tanta coisa que com certeza irá te influenciar na nova jornada.
Eu vim reclamar aqui daqueles que se agarram em coisas comôdas e no fim acabam por não construir nada. Não estou falando só de coisas materiais, mas também da construção de laços consigo proprio. Das pessoas que não buscam outros caminhos pelo medo da descoberta, pelo medo de sair do ninho.
O seu plano de "não plano" foi a melhor maneira que encontrou para viver a vida, e o meu plano de "grande plano" foi a minha melhor maneira de começar a minha, pois, cada um a sua maneira deu sentido ao seu "estar no mundo".
A minha reclamação é para as pessoas que tem medo de viver com as responsabilidades que a vida acarreta.

Fóssil disse...

Adorei! Me fez refletir bastante... tenho grande sonhos, mas não sei se eles já são "planos", não sei exatamente se faço algo de concreto pra que eles se tornem realidade. Também padeço um pouco desse medo besta do amanhã - acho que é isso que se esconde por trás de muitos discursos de "viva cada dia intensamente sem se preocupar com amanhã". Concordo com a primeira parte, mas por que isso deve implicar em esquecer o próximo passo? É algo que simplesmentenão cola pra mim.

Sigo tentando, né? x)
Muito bom!