20 abril 2008

Vamos lavar os trens Geruza

As 16hs do dia 19 de Abril, eu me tornei a ultima Gerusa da família Ribeiro Silva, legado este deixado por Geruza Francisca, minha avó que sentiu o alivio da partida por deixar aqui toda dor que estava sentindo.
Bem verdade que minha prima Iane também se chama Gerusa, mas a opção do nome que iria ser seu foi feita desde pequena assim como eu abdiquei do nome Flávia que trago em minha certidão.
O nome que significa nascida em Jerusalém veio junto com minha avó do interior do Piauí, que me dizia ser neta de índia.Ela que foi abandonada pelo pai na casa de uma desconhecida que a criou, e depois se casou aos dezoito anos com João Velho, sempre velho desde menino, e terminou de criar os filhos, seus irmãos, que o pai trouxe quando voltou pra morrer, fugido da seca desgraçada e da vida sem rumo do sertão.
Depois vieram os filhos seus, todos negros como João, os homens alegres e mansos como ele, as mulheres também alegres mas com a agonia breve de Geruza, que alegria teve poucas na vida e com isso já se conformara de muito.Dos dez filhos que teve, dois se foram pequenos, mortos pelas doenças da infância, e o mais velho morreu longe dela nas vésperas da comemoração das bodas de ouro de se casamento com João. Muitos do que ficaram fizeram sua vida e famila perto dela, já outros como meu pai deixaram a casa cedo e foram para outras paragens distantes da cidade de São João dos Patos.
Eu sempre cresci sendo chamada de Geruzinha, e quando pequena só vi minha vó uma vez da qual não lembro bem, mas me dizem que eu imitava seu jeito de andar e de cochilar depois do almoço.Meu pai sempre mandava eu escrever cartas pra ela, que mandava junto com as dele, e eu caprichava com desenhos de como eu imaginava ser essa família que não conhecia, essa Geruza que me tinha dado seu nome.
Ela só veio ficar mais próxima de nós quando meu avó se foi por conta de um derrame que lhe comprometera o movimento das pernas.E quando meu pai ficou sem emprego fui morar com ela durante um ano.Ai conheci a força da Geruza que não chorava, que não dava carinho, que se enchia de uma teimosia de vencer a morte e os obstáculos que a velhice trazia, que não queria mudar sua maneira. Mas que de vez em quando se pegava com lágrimas nos olhos cheia de saudade dos filhos e do João,e que quando íamos viajar mandava matar o capão pra fazer o frito, e ia aprumar as roscas, os bolos cacete e os beijus de tapioca enrolados na folha de bananeira.
A geruza só sabia amar assim.
A ultima vez que a vi foi no final do ano passado, onde ela estava muito feliz de ter seus netos amados perto dela. Ela nunca mudou e apesar de ter vivido comigo um ano nunca aceitou e se acostumou com minhas horas malucas de comer e dormir, mas aprendeu a deixar a porta aberta pra não perturbar seu sono. As vezes eu a fazia rir.
Quando me despedi dela disse que queria vê-la passando uns meses lá em casa,e que viríamos todos no próximo final de ano. Mas ela se foi aos oitenta e um anos sem ter a chance de colocar no colo a filha do seu neto favorito, meu irmão.
E agora só ficou a Gerusa nova, cheia de uma responsabilidade de honrar o nome de mulher que por tudo lutou.Eita vó que você vai fazer uma falta danada no final do ano, mas eu vou manter a promessa que estaremos todos juntos e felizes em sua casa.Tentaremos.

3 comentários:

Unknown disse...

POxa geruza,se a intensão foi de fzr chorar...

Congratulations! you wins!

O que seria de nós,se não existissem nossos avós, que lutaram bastante por tudo isso que hj vivemos...
Sem eles,nem existiriamos,e nem saberiamos o que é viver...

A historia de sua vó,é honrosza,e acredite, esse seu nome vale a pena carregar com orgulho...


MayCon SilveiRa

Paulo Vilmar disse...

GERUSA!
Em maiúsculo te saúdo, posto que é assim a responsabilidade que tens em perpetuar não um nome, mas uma história que sendo única é a mesma de milhares de Brasileiros que fazem deste emaranhado de gentes, barros, areias e águas, um país.
Vá em paz, do alto teus oitenta e um anos vividos e bem vividos, minha mãe preta do cerrado, representante de todas as fortes mulheres desta continente chamado Brasil! Como minha crença não se eleva a nenhum deus, deposito minha lágrima em teu túmulo, como beijo, sorriso e pedido de perdão!
E, tenha certeza, amiga Gerusa, a falta que vais fazer não será só no fim do ano...
Beijo tua calejada mão, como forma de agradecer a tua existência, a tua e a de milhares de pares, que fazem de nós, brasileiros, um povo...
Beijos.

Filho de Vencedor disse...

Ai prima amada...carrega em seus braços a honra mais perfeita como a primavera da flor. Gerações são perpetuadas por atitudes nobres e humildes. Você com toda certeza, é bem diferente de sua avó, muitas das suas diferenças são principadas nas da sua vô, aí está a dinâmica da vida...vc é diferente dela, mas fruto do amor dela.
Parabéns!